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André Ventura: Deus, pátria e família; Uma nova esperança para Portugal

DAVIDE PEREIRA

Doutor André Ventura, compartilhamos ambos a mesma fé cristã e ambos damos o máximo valor ao pilar judaico-cristão da nossa civilização ocidental, o qual nenhum de nós quer ver morrer e pela qual ambos lutamos cada um no seu campo e no seu posto. É este o enquadramento dessa entrevista. Muitas e variadas perguntas, com outro enfoque, lhe poderia colocar, e espero em futuras entrevistas vir a poder fazê-lo. Mas hoje limitar-nos-emos a este enquadramento. E desde já, muito obrigado pelo seu tempo.

Deus, Pátria e Família. Em que medida o Chega corporiza este lema?

Está bem claro no nosso programa. Começando pela Família, refere o nosso programa que «o Chega coloca a família no âmago da sua concepção de sociedade, como célula base que garante a preservação, renovação e socialização da ordem moral e da cultura cívica». Tal ponto, para nós, é relevante. Quando formos Governo, criaremos o Ministério da Família que terá como função básica recolocar a família, e o seu papel na educação dos filhos, no lugar central que nunca deveria ter deixado de ser o seu. Quanto à Pátria, ela representa para nós a fonte de tradições, de maneira de estar no mundo e na vida, e de uma cultura específica e insubstituível. Sempre aberta a outras culturas, mas sem nelas se diluir. São essas tradições, essa cultura, essa maneira de estar no mundo e na vida que nos permitem encarar o futuro com a energia e a força que só as raízes profundas conseguem transmitir. Por fim, mas não por último, Deus. Como cristão, encaro Deus como o alfa e o ômega da minha e de toda ação humana. O Chega está aberto a todas as sensibilidades e a todas as religiões compatíveis – e não conflituantes – com o nosso ordenamento jurídico e valores fundacionais da nossa tradição greco-latina e judaico-cristã. Mas, tendo em conta o seu programa e os valores neles defendidos, arrisco-me a dizer que neste partido todos os cristãos encontrarão um porto particularmente seguro.

O marxismo cultural avançou em Portugal durante os seis anos de governo da esquerda e da extrema esquerda. A ideologia do gênero, como uma das facetas mais agressivas dessa ideologia, tem feito em Portugal o seu caminho. Qual a posição do Chega nesta área?

Avançou em Portugal e na generalidade dos países europeus. Com a muito louvável excepção da Hungria e da Polônia, onde governos são abertamente de direita, sem complexos de esquerda e sem qualquer respeito pelo politicamente correcto, decidiram fazer frente e erguer barreiras. É nossa convicção profunda, minha e do Chega, que o combate ao marxismo cultural e à sua ponta de lança, a ideologia de gênero, ultrapassem as possibilidades de um único partido num único país da Europa. Terá de ser uma luta, feroz e sem tréguas, de uma frente de partidos de direita europeus. Das siglas nacionais hoje reunidas nos partidos europeus ID (Identidade e Democracia) e no ECR (Reformistas e Conservadores Europeus) e de outros que saíram. Alguns acabarão por sair do PPE (Partido Popular Europeu). Só uma estratégia e uma frente comum unindo todos os partidos anti-socialistas e anti-marxistas da Europa poderá ter hipóteses de fazer frente, e de vencer, o marxismo cultural e de regredir suas políticas nefastas, nomeadamente a da ideologia de gênero. O Chega, membro do ID, tem despendido tempo e energia a tentar consolidar essa frente. É um dos nossos grandes objetivos ajudar a criar, e fazer parte, de uma grande frente europeia capaz de vencer o marxismo cultural e as suas políticas letais para o nosso mundo, a nossa civilização e a nossa humanidade como um todo.
Quanto ao que de nós depender, no caso específico de uma ação direta em Portugal, a ideologia de gênero será barrada.

É nesse âmbito, o de uma resistência à ameaça global que é o marxismo cultural e o socialismo em geral, que se pode inscrever a adesão do Chega à Carta de Madrid?

Exato. O motor do comunismo, agora já sob a pele do neo-comunismo, de um ponto de vista estratégico e de financiamento, desde a queda do muro de Berlim deixou de centralizar-se na antiga União Soviética para se localizar na América Central e do Sul, com o apoio de Cuba, da Venezuela e do Brasil, nos tempos do PT. Esse motor começou a se concentrar no Brasil em 1990, promovido pelo PT sob a forma de uma organização denominada Foro de São Paulo. Esse motor surge a partir de um seminário internacional promovido pelo Partido dos Trabalhadores e reunindo políticos e organizações de esquerda. Claramente uma forma de substituir a extinta URSS na promoção, financiamento e expansão do marxismo no mundo, começando pela América Central e do Sul. Prevendo a vitória de Bolsonaro, o polo central desta organização muda o essencial da sua atividade para Puebla, no México, agora sob o nome de Grupo de Puebla. Sua base passa a ser mais difusa, mas não menos agressiva, de um fórum político e acadêmico composto por representantes políticos da esquerda no mundo. O principal objectivo é «articular ideias, modelos produtivos, programas de desenvolvimento e políticas de Estado progressistas». Tudo isso financiado pelas estatais brasileiras, a começar pela Petrobrás, e pelas estatais venezuelanas. Bem como, começa a saber-se agora, pelos bilhões gerados pelo narcotráfico. A atividade do fórum de S. Paulo extravasou há muito da esfera da América Latina para a Europa, começando por Espanha e Portugal. A Carta de Madrid é uma resposta global a este ataque do Grupo de Puebla, igualmente sob a forma de um fórum político e acadêmico reunindo representantes políticos da direita no mundo, com particular relevo para a América Latina, Espanha e Portugal. O nosso papel como signatários dessa Carta é o de estender os seus princípios e atuações ao mundo lusófono, aumentando largamente o âmbito desse movimento de defesa e de contra-ataque à expansão do neo-marxismo.

Bolsonaro com frequência fez, e ainda faz, menção a Deus. Será que o Dr. André Ventura tem coragem para chamar à responsabilidade o eleitorado português, que se diz cristão e que vota na esquerda, que isso é anti-bíblico? O que pode o Chega dizer em relação à cegueira dos cristãos em Portugal que, sempre que há eleições, vão correndo votar em partidos que são contra todos os princípios judaico-cristãos?

Praticamente em todas as minhas intervenções públicas faço menção a Deus e a seu papel como alfa e ômega da História. E que se sou, o que sou e se faço o que faço, é em seu nome e por sua escolha que faço. Para mim é muito claro. Quanto a ter coragem para o apelo que refere, teria sempre, mas creio que seria deslocado fazê-lo porque é à hierarquia católica e protestante, aos seus padres e pastores, que cabe essa missão decisiva. E, se quer saber, não deixa de me surpreender, em cada eleição, o profundo silêncio dos responsáveis quando deveriam ser claros nas suas linhas orientadoras sobre em quem não votar. E se os responsáveis se calam, que responsabilidades poderão ser pedidas a quem foi abandonado por aqueles que tinham obrigação de os esclarecer? É lamentável, mas é essa a verdade.

Havia um gigante adormecido no Brasil: a comunidade evangélica. O Dr. André Ventura já pensou em fazer o mesmo que fez o presidente Bolsonaro, despertando evangélicos e católicos a aderirem ao projeto do Chega?

Evangélicos e católicos são duas sensibilidades cristãs que facilmente poderão rever no nosso programa, nos nossos valores e na nossa maneira reta e clara de estar na política. Aqui lhes deixo um apelo para que leiam o nosso programa e, caso estejam de acordo com ele, e seguramente que estarão, nos darem o seu apoio para vencer os inimigos da nossa maneira de viver, da nossa civilização e do futuro dos nossos filhos e netos.

Um dia quando for o Primeiro Ministro de Portugal, terá coragem de transferir a Embaixada de Portugal, que está em Tel-Aviv, para Jerusalém?

A transferência da Embaixada de Portugal que está em Tel-Aviv para Jerusalém faz parte do nosso programa e nosso programa foi feito para ser cumprido. Outras coisas nos faltarão, mas nunca a coragem. Israel é um aliado imprescindível do mundo livre e o seu povo tem defendido, de armas na mão, a frente terrorista e marxista que tenta ruir a nossa civilização greco-latina e judaico-cristã. Merecem ver reconhecida Jerusalém como sua capital e é o mínimo que podemos fazer por quem combate, com inteligência e determinação, os nossos comuns e implacáveis inimigos.

Portugal, infelizmente, está a envelhecer. Qual a sua posição em relação aos ex-combatentes, ao aumento da idade para a reforma e, ainda por cima, para receber uma prestação de reforma que se traduz em valores miseráveis? Estamos, há décadas, a ser financeiramente suportados por Bruxelas sem «passar da cepa torta». Será que com a «bazuca» que aí vem poderemos, finalmente, corrigir uma situação que se arrasta há tanto tempo sem solução?

Infelizmente os recursos que deveriam ser aplicados no apoio à 3ª Idade, em reformas decentes para quem trabalhou duramente toda a sua vida e em prestações adequadas e dignas a quem tão duramente lutou pelo seu país em várias frentes de guerra, são orientados de outra forma. No aumento indefinido de funcionários do Estado; no apoio a quem não quer trabalhar e a supostos refugiados que em nada contribuíram; na corrupção endémica e generalizada que nos custa cerca de 20 bilhões de euros por ano; na péssima gestão da máquina do Estado; e numa infinidade de mil e uma coisas inúteis ou prejudiciais. Nisso têm sido consumido parte substancial dos pesadíssimos impostos pagos pelos portugueses. Dos 220 bilhões do dinheiro que nos emprestaram e que os nossos filhos terão de pagar, bem como das torrentes de dinheiro que há dezenas de anos ininterruptamente nos chega de Bruxelas. Quanto à famosa bazuca, seguramente que irá «disparar» em todas as direções já acima enunciadas mas nunca, isso garantidamente, na direcção da 3ª Idade, dos antigos combatentes ou das miseráveis pensões de invalidez e reforma. Para esses, sempre os mesmos, nunca sobra nada.

DAVIDE PEREIRA
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Davide Pereira

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