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Como seria a vida sem cegonhas.

Crónicas de Davide Pereira, PhD. Helsínquia. Finlândia.

Nostalgia!

Ainda só passaram apenas seis meses que aqui estou a viver na Finlândia e já comecei a ser visitado com uma certa frequência pela «senhora» Nostalgia. Gradualmente, as visitas desta «senhora» tem sido cada vez mais frequentes, porque agora, neste país nórdico, o aroma e o clima se tem tornado substancialmente aos pouco e poucos, mais e mais mediterrânico. Chegou o mês de Agosto e com ele o verão, embora, este assombrado por essa » mala pata» do covid 19.

Na última vez que esta » senhora» visitou-me, como se não me  bastasse a crescente nostalgia que tenho pelo meu país, Portugal, ainda teve o arrojo de presentear-me com um cesto de vime da Madeira que continha os cheiros e os odores da minha terra, os costumes e a alegria do meu povo, assim como os seus vinhos, azeites e iguarias da » tasca do Zé da esquina lá do meu antigo prédio «, na Linha de Sintra. 

Joensuu.

Numa das minhas mais recentes viagens de negócios, tive de deslocar-me a Joensuu, um pouco mais ao norte do vilarejo onde resido. A  cidade de Joensuu, na Carélia do Norte, foi fundada pelo Czar Nicolás I da Rússia em 1849. Esta região é bastante verde, assim como também o é, todo o território finlandês. A Finlândia têm se destacado pelos seu tons de verde pastel e de um azul cristalino aguarela dos seus conhecidos mil lagos, contrariando assim o acinzentado crescente de todo o resto da  » vecchio» Europa. 

Em Joensuu o objectivo era visitar várias propriedades para depois adquirir uma que fosse ao encontro de um dos meus projectos. Numa dessas visitas a propriedades nas periferias de Joensuu, num terreno mais descampado, deparei-me com um casal de cegonhas brancas, ciconia ciconia. A cegonha branca, assim como as demais espécies de cegonhas são conhecidas pela sua monogamia e fidelidade ao seu local de assentamento. Foi Johannes Leche que começou a estudar e a registar datas da chegadas de cegonhas migrantes da primavera na Finlândia em 1749.

Cegonhas. 

Novamente ouvi o toque da campainha da porta de casa! Era a » senhora» Nostalgia que vinha acompanhada pela sua amiga, a » senhora» Saudade. E adivinhem lá qual foi o tema da conversa que trouxeram! As minha idas para o sul de Portugal, acompanhado pelos meus pais e irmãos, para umas merecidas férias nas praias de água tépida de Vila Real de Santo António no Algarve por altura de Agosto. Vieram à minha memória os quilómetros e quilómetros que eram percorridos e em que constantemente eram avistados grandes ninhos de cegonhas brancas e de cegonhas pintadas que por essa altura visitavam a Península do Sade e todo o Alentejo. O calor do verão do sul do mediterrâneo, os campos em tons de um amarelo extraído de um Van Gogh com as suas cegonhas ibéricas a voar majestosamente. Simplesmente era the best!

Já cheguei a questionar o que seriam os céus e os campos no verão, sem as suas cegonhas e os seus ninhos férteis de amor e do fruto desse amor! Não vos falo de ninhos escuros e vazios sem movimentos de vida no seu interior mas sim de » casa cheia» em dias depois de uma noite de acasalamento e de sons de cumplicidade. 

Como seria a vida sem cegonhas?!

Na Roménia, por exemplo, deixaria de existir a crença de que uma criança concebida com amor era sempre trazida pela cegonha; deixava de ser chamada de noite das cegonhas uma noite do começo do mês  de abril. 

Nessa ocasião do acasalamento das cegonhas, pois, embora sejam aves diurnas, elas se acasalam somente à noite e nessa noite de abril, isso  deixaria de existir. Nesse dia, ao cair da noite, deixariam de sozinhas ou aos pares, e lobbys irem para os seus ninhos e desaparecem no céu ao escurecer. 

Durante essas noites, na Roménia perdia-se uma tradição: as jovens das aldeias moldavas tinham total liberdade sexual, e as crianças nascidas nove meses depois eram «trazidas pelas cegonhas». 

Essas crianças, filhas do amor, eram sempre bem acolhidas e não causavam transtorno para suas famílias (porém, geralmente, a jovem anunciava aos pais seu desejo de se casar com o pai da criança ).

Essa tradição romena e muitas outras associadas às cegonhas perdia-se.

Conclusão.

A vida sem cegonhas não faz sentido.

Leis e movimentos partidários associados há política do género que querem abolir e acabar com » a cegonha que traz o meu e o seu bebé de Paris», deveriam pensar: aonde eu estaria agora se os meus primogenitores quisessem extinguir as cegonhas. 

Pense nisto.

Davide Pereira

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Carlos Aurelio Caldito Aunión

Ver comentarios

  • Muito objectivo e oportuno.
    Deus continue abençoando o escritor e o jornal também levando a Verdade

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