Carlos Aurélio Caldito Aunión
No fim de semana de 19 e 20 de setembro, será realizada uma convenção do partido «Chega» na cidade de Évora, que também será a fusão (pela «união faz força») deste partido com o Partido da Cidadania e da Democracia Cristã, conhecido em Portugal como o partido PRÓ-VIDA. Nesta entrevista falamos com o Manuel Matías, presidente do PPV/CDC.
Manuel Matias, presidente do partido PPV-CDC, casado, pai de dois filhos, técnico de aconselhamento em comportamentos aditivos.
– É obrigatório começar (embora o Senhor já nos tenha respondido em tempos anteriores) Porquê, e para quê, o PPV/CDC se funde com CHEGA?
Desde a primeira conversa entre os dois partidos ficou claro que o que nos unia era muito mais do que nos separava. Como tal, percebemos que o projeto político que abraçámos na época, precisava de tempo para ser alcançado. O objetivo principal passa por derrotar o Socialismo em Portugal e eleger um Primeiro-Ministro de Direita e Católico que tenha as condições políticas para defender a Família que é atualmente a instituição mais atacada seja culturalmente, ou através do asfixiamento económico das mesmas.
– Artigo 16.3 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que a República de Portugal deveria ter assinado, afirma claramente: «A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.» Você acha que este artigo da Declaração de D.H. foi especialmente esquecido pelos vários governos de Portugal nas últimas décadas?
Claro! Repare, à quanto tempo não existe um programa político destinado à Família? O que é um país, se não um conjunto organizado de famílias? Na família temos espaço para praticamente tudo na política, seja as políticas de natalidade e educação, seja nas políticas de trabalho, na economia, na gestão autárquica e no melhoramento das zonas urbanas e rurais para as famílias poderem instalarem-se. Seja nas políticas de saúde, da terceira idade ou de segurança social. A família, enquanto instituição basilar, envolve todas as áreas. Portanto claro que a família tem sido alvo de uma destruição enquanto instituição sem precedentes, trocou-se a natalidade pelo aborto, aos mais velhos oferece-se agora a eutanásia, na educação as famílias não podem educar livremente os seus filhos, os pais cada vez mais entupidos em impostos. Com a destruição da família enquanto instituição basilar o indivíduo fica mais dependente do que nunca do Estado. Basta perceber o quão difícil hoje é um jovem comprar casa e emancipar-se e cada vez ficará pior. Não há forma de defender a família em Portugal e de inverter esta tendência sem uma alteração profunda à constituição, ou deitar esta para o lixo porque o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. E precisamos mesmo de endireitar Portugal.
– Segue-se a partir desse mesmo artigo que o poder público é obrigado a garantir a proteção social, econômica e jurídica da família. E, claro, a proteção integral das crianças, que devem ser consideradas iguais perante a lei, independentemente de sua afiliação, e mães, qualquer que seja seu estado civil. E, claro, tudo isso se refere à obrigação dos pais de prestar assistência de todos os tipos às crianças dentro ou fora do casamento, durante sua minoria de idade e em outros casos quando legalmente apropriado. O que você e seu partido propõem respeito por tudo isso, e o que você vai propor que seja incluído (se é que ainda não fez isso) no programa eleitoral e de governança do partido resultante da fusão do PPV/CDC e CHEGA?
O problema está quando o maior perigo para as crianças portuguesas torna-se o próprio Estado. Hoje em Portugal estamos a ser geridos por pessoas perigosas que muitas vezes sobrepõe as suas próprias ideologias à realidade, não há maior perigo do que este.
– Se fizermos uma rápida revisão das políticas seguidas pelos vários governos de Portugal nas últimas décadas, conclui-se de uma forma retumbante que, a família e a vida não só não foram defendidas por nenhum deles, como foram duramente atacadas. O que você tem a dizer sobre isso? Que «arcabouço legal», em sua opinião, deve ser criado em Portugal para garantir a defesa da vida e da instituição familiar?
Sempre ouvi dizer que o país tem as melhores leis do mundo, óptimas mas que por diversas razões não passam do papel e nunca podem ser realizadas. Vou responder à sua pergunta, é claro que tem de ser criado todos os mecanismos possíveis no quadro legal pela defesa da Família e da Vida, mas desengane-se quem ache que será suficiente. As leis desfazem-se, a própria constituição diz que a Vida Humana é inviolável mas nem isso impediu a aprovação do aborto. Por muito que isto seja inconveniente dizer e não terá nenhum político a dizer-lhe isto, a classe política infelizmente é o reflexo da mentalidade e da cultura do povo português, dos que votam, mas sobretudo dos que não votam. Por isso não basta mudar leis iníquas no parlamento é preciso blindar valores absolutamente fundamentais, mais do que o trabalho político é preciso uma empregar uma mudança cultural no povo português. Não é fácil, mas é algo possível e aspirável em pelo menos 10 anos.
– Em Portugal, cerca de 20.000 abortos são realizados por ano; você afirma que um de seus principais objetivos é a proteção da vida humana desde o momento da concepção até seu término por causas naturais. Quais medidas legislativas você acha que devem ser aprovadas – e quais revogadas – para prevenir o aborto, ou pelo menos deter as mães que recorrem ao aborto?
Sobre isso diria o seguinte, qualquer lei apresentada em parlamento é passível de ser alterada na legislatura seguinte, bastando mudar o enquadramento parlamentar. Volto-lhe a dizer trata-se de uma questão cultural, isto é só realmente mudando a mentalidade do povo português podemos ser ativos no propósito da defesa da Vida. O que os portugueses têm de perceber é que quando estamos perante uma Mulher grávida e desempregada, o problema dela não é a sua gravidez. O problema é a sua situação de desemprego. Quando uma pessoa está num sofrimento insuportável, a solução não é terminar com a vida da pessoa, é acabar com o seu sofrimento. Isto é absolutamente lógico.
Do ponto de vista político temos de fazer os possíveis para criar incentivos à natalidade, aliviamento fiscal e criar todas as condições possiveis para reduzir ao máximo possível o número de abortos. Não irei mentir como os partidos da suposta direita tradicional fizeram em Portugal, não basta ter uma maioria de direita que revogue leis iniquas porque depois teremos outra de esquerda que fará pior se preciso for. Portanto se isto é um problema cultural, então é algo que nos convoca a todos a ser ativos nesta questão que ultrapassa o mero exercício do voto. Não é fácil revogar estas leis, mas não tenho dúvidas de que será uma certeza no futuro. Volto a dizer-lhe temos os políticos que temos e estamos na situação em que estamos, porque somos o povo que somos, abstivemo-nos em alguns casos, conformamo-nos noutros e calámo-nos em alguns.
– O que você tem a nos dizer sobre eutanásia e pena de morte?
A Vida é uma graça de Deus, é absolutamente inviolável e tudo o que atente contra ela corresponde a um ato criminoso.
– Muitas vezes afirma que os seus princípios, que considera indispensáveis, baseiam-se na «doutrina social da Igreja» que, entre muitas outras questões, nos ensina que, «a família é a comunidade estável fundada no casamento de homens e mulheres, que formam cônjuges e seus filhos, com o objetivo de ajudar uns aos outros, transmitir a vida e garantir o desenvolvimento e a educação gratuita das crianças» , que iniciativas legislativas o novo partido deve buscar resultantes da fusão do Chega e do PPV/CDC?
Em primeiro lugar, menos Estado e mais Famílias. Esta deve ser a premissa fundamental que nos guia no nosso trabalho político. O Estado deve auxiliar as famílias, não deve sobrepor-se à Família. É o Estado que tem de adaptar-se à realidade da pessoa e das famílias não são as pessoas que devem mudar devido ao Estado.
Preocupa-me sobretudo dois aspetos fundamentais, que haja uma legislação laboral amiga das famílias e que procure incansavelmente que os pais possam passar o máximo de tempo possível com os seus filhos. Por outro lado, é essencial promover a liberdade na educação, uma cultura de mérito e o cheque-ensino. A escola tem de procurar formar a pessoa na sua integralidade, o atual sistema educativo não prepara as pessoas para o mercado de trabalho e está amarrado a teias ideológicas à décadas, está ultrapassado, é ineficiente e o poder central tem demonstrado uma enorme incapacidade para reformar o sistema educativo. São as novas gerações que estão a ficar para trás, são as novas famílias que estão a ficar hipotecadas, é o futuro de Portugal que está em questão.
– Qual é a sua opinião sobre o projeto do governo social-comunista, seguindo o exemplo do governo socialista espanhol que presidiu há mais de uma década José Luis Rodríguez Zapatero, para aprovar uma «lei de educação de cidadania»?
Muito simples, estas leis serão as primeiras a ir para o caixote do lixo. Vão contra os direitos das crianças, promovem a erotização precoce dos mais novos e como tal são absolutamente inaceitáveis. Pior, estão a ser feitas às escondidas dos pais que são os tutores máximos da educação dos seus filhos. Portanto temos um Estado que defrauda desta forma os seus cidadãos. Não maior imoralidade, não há maior vergonha!
– Há muitos que, tanto do lado quanto do outro lado do «la Raya», tanto na Espanha quanto em Portugal, nos vendem que o divórcio é um sintoma de progresso. Retomando a doutrina social da Igreja O que você acha que devemos mudar em Portugal para evitar as consequências do divórcio, o que fazer com a custódia de menores quando o vínculo matrimonial é quebrado? Fale-me sobre mediação e ensino domiciliar, o que deve ser feito nesta área?
O ensino domiciliário é hoje a única forma dos pais protegerem os seus filhos da máquina ideológica do Ministério da Educação, por isso não só deve ser protegido como tem de ser promovido.
Quando 7 em 10 casamentos em Portugal dão em divórcio compreendemos que estamos perante um problema. O casamento hoje para a vida inteira é uma excepção e não a normalidade isso levanta muitas questões. Não será por acaso que temos um número elevadíssimo de crianças a serem acompanhadas em psicólogos e psiquiatras, a apresentarem desde idades precoces depressões e outras perturbações graves. A maior parte das crianças não cresce com o seu núcleo familiar completo, a maior parte das crianças não cresce com um pai e uma mãe, isso é extremamente preocupante. O político tem a obrigação de minimizar os danos provocados por esta situação, mas o problema é estrutural e as novas gerações de portugueses já serão o reflexo deste cenário.
– Portugal, como muitos mais países em nosso ambiente cultural e civilizacional, sofre de uma grave crise demográfica, manifestada em um envelhecimento acelerado da população, uma diminuição no número de nascimentos, etc. que comprometem seriamente o futuro de Portugal como nação O que você pensa para parar a crise demográfica, o que promover a maternidade , que tipo de auxílios as autoridades devem enviar às famílias?
Costumo dizer que não vivemos um Inverno Demográfico, mas antes, um verdadeiro inferno demográfico. A atual situação demográfica diz-nos uma coisa muito clara, é insustentável. O Estado Social que deveria ser das maiores conquistas do século anterior vai tornar-se num curtíssimo espaço de tempo a maior prisão deste século para as novas gerações. Neste momento o poder político não tem vontade, engenho e arte para fazer face a este problema porque isso requer coragem, sacrifícios e um novo contrato intergeracional que aos olhos da nossa constituição socialista é absolutamente impensável. Daí a urgência de rasgar a constituição e se preciso, alguns acordos internacionais.
– Antes de terminar, pedirei que nos dêem sua opinião sobre a chamada «perspectiva de gênero» e seus riscos e terríveis consequências.
As consequências estão hoje já visíveis em muitos países como: Inglaterra, Suécia ou Canadá. Em Inglaterra num curto espaço de tempo o número de casos disforia de género disparou em mais de 2000% e nas escolas ensina-se hoje aos miúdos que existem mais de 100 género diferentes. Na Suécia vi recentemente um documentário no Youtube “ Raised without Gender” em que demonstrava duas crianças que tinham crescido sem serem chamados pelos seus pronomes relativos ao seu sexo, os pais queriam dar uma educação absolutamente neutral para que no futuro ambas as crianças pudessem livremente escolher o seu género, aquele com que se identificassem mais. Isto é horrível. No Canadá quem não aceita a Ideologia de Género tem problemas em acesso às carreiras na função pública, a caminho de uma verdadeira ditadura. Portanto os exemplos já cá estão todos, as consequências muitas já estão visíveis e outras que nem imaginamos e como tal, só há uma coisa a fazer: cortar o mal pela raiz.
Com meus melhores votos para você e para aquele novo partido resultante da fusão do PPV/CDC e Chega, cumprimento-o com muito apreço,
Carlos Aurélio Caldito Aunión
Director y fundador de VOZ IBÉRICA.
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